segunda-feira, 1 de novembro de 2010

PEDAÇOS DA NOSSA HISTÓRIA

António José de Almeida
Sessão extraordinária no Parlamento em 23 de Novembro de 1914 para autorizar o Governo a enviar tropas portuguesas para a 1ª Guerra Mundial.

“”Não há que discutir o que as circunstâncias impõem. A Inglaterra carece do nosso auxílio e reclama-o. Só há para nós uma solução: dar-lho.
Se não fôssemos um país desmantelado, com as arcas do tesouro vazias, e, o que é pior, cobertos de dívidas, com a nossa indústria atrofiada e a nossa agricultura numa situação difícil; se não fôssemos um pais com exército diminuto e apenas sofrivelmente armado e equipado; se, numa palavra, não fôssemos uma pátria cheia de condições de vida que começa agora a ensaiar a sua regeneração económica, mas depauperado e exausto por uns poucos de anos de deboche constitucional; e, se, antes pelo contrário, fôssemos um país florescente e próspero como a República é capaz de o fazer nalguns anos, eu teria sido pelo alvitre de logo mandarmos, mesmo sem ele ser pedido, um contingente do nosso exército, para, ao lado do estandarte de Inglaterra, levantar a bandeira portuguesa.

Razões de sentimento político me determinaram a seguir esse caminho
””.


António Barreto
Sessão oficial de 10 de Junho de 2010:

“”Ao ver desfilar umas dezenas de antigos combatentes, de todos os teatros de acção militar em que Portugal participou, não sentimos vontade nem necessidade de lhes perguntar pela guerra, pela crença ou pela época. Sentimos apenas obrigação de, pelo reconhecimento, pagar uma dívida. Sentimos orgulho por saber que é a primeira vez na história que tal acontece e que está aberta a via para a eliminação de uma divisão absurda entre Portugueses. Com efeito, é a primeira vez que, sem distinções políticas, se realiza esta homenagem de Portugal aos seus veteranos.

Centenas de milhares de soldados portugueses combateram em nome do seu país, do nosso país, desde os inícios do século XX até à actualidade. Já não há sobreviventes do Corpo Expedicionário Português enviado para Flandres, na 1ª Grande Guerra Mundial, nem das forças que, no mesmo conflito, lutaram em África. O último veterano dessa guerra, José Maria Baptista, morreu a 14 de Dezembro de 2002. Depois daquele conflito, as guerras foram, durante décadas, poupadas aos Portugueses. Só a partir de finais dos anos 1950 os soldados e outras forças militarizadas voltaram a encontrar-se em situações de combate aberto, primeiro no então Ultramar português, depois em múltiplos teatros de guerra, em associação com forças armadas dos nossos aliados da NATO e da União Europeia e em missões organizadas sob a égide das Nações Unidas. Independentemente das opiniões de cada um, para o Estado português todos estes soldados foram Combatentes, são hoje Antigos Combatentes ou Veteranos, mas, sobretudo, são iguais. Não há, entre eles, diferenças de género, de missão ou de função. São Veteranos e foram soldados de Portugal. É assim que deve ser
””.

A conclusão que se tira:
As Forças Armadas são, aos olhos e sentir de Portugal, o exemplo vivo da alma de uma Nação. A única Instituição que todos respeitam como símbolo perene de uma afirmação nacional, garante último da independência de uma particular forma de ser e estar de um povo, que quer continuar a afirmar-se por aquilo que é.

Desde sempre os altos dignitários do poder, ou com ele ajuramentados, e mesmo em situações do País à beira da ruína, nunca se coibiram de hipotecar esse símbolo em nome de interesses estranhos a que Portugal se deixa submeter, seja por subserviência, incompetência, ou simplesmente vontade de deixar nome na História, nem que seja pelo mais repelente dos motivos: entregar outros portugueses à sorte e à morte na sombra de alheios interesses.
Ainda hoje assim é.

“De pequenos foram grandes
No meu peito bate um coração
Que é português”
(Cancioneiro Popular)
HDP